Crise econômica

Crise político-econômica: análise e perspectivas para o micro e pequeno empreendedor brasileiro

Crise econômica
O empreendedor não pode ficar à espera de um milagre. Planejamento, organização e inovação são elementos essenciais para vencer a crise.

O Brasil vive um momento de grave incerteza política e econômica. Diante da possibilidade de efetivação do impeachment da presidente Dilma Rouseff, o empreendedorismo brasileiro precisa encarar uma das piores crises já vividas pelo país. Se as grandes empresas detentoras de maior capital de giro já sentem dificuldade para manter suas atividades neste período adverso, quão maior não é a problemática para micro e pequenos empresários, que nem sempre conseguem lidar de forma resistente com a queda nas vendas e o déficit na movimentação financeira.

O economista e Diretor da Project Consultoria, Welington Rodrigues, afirma que o cenário econômico representa um grande desafio para o micro e pequeno empreendedor. “Extremamente desafiador! Não há outra definição. Por um lado as decisões políticas do momento são imprevisíveis, o que leva os empreendedores a rever seu planejamento e forma de atuação o tempo todo, até porque a estratégia adotada começa a ficar prejudicada por não refletir os resultados esperados. Por outro lado, o cenário político redireciona a expectativa dos agentes que são as famílias, os governos, as empresas, para consumir ou não, investir ou não. E isso impacta diretamente na micro e pequena empresa nos quesitos crédito, formação de estoques, capital de giro e mão de obra disponível. Além disso, há que se observar as implicações macroeconômicas da oscilação do câmbio, juros e inflação”, pondera.

O ambiente de incerteza se agrava diante do seguinte fato: enquanto se aguarda por uma decisão sobre o processo de impeachment, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa quatro ações movidas pelo PSDB com objetivo de cassar a chapa vencedora Dilma/Temer, o que poderia levar à convocação de novas eleições presidenciais, fato que certamente poderia afetar o sucessor legal da chefe do executivo, o vice-presidente Michel Temer. Ademais, na escala de sucessão, na hipótese de impeachment, o presidente do Congresso Nacional, também está envolvido em processos de ordem jurídica. Dessa forma, sustenta-se a situação penosa enfrentada pela combalida economia brasileira, que luta contra significativos déficits nas contas públicas.

Para evitar a tomada de decisões equivocadas num cenário de fraco movimento e margens pequenas, que poderia levar a prejuízos incalculáveis e dificuldades maiores de recuperação em curto e médio prazo, Welington Rodrigues recomenda organização e planejamento. “Recomendo que antes de investir neste ano, o empresário faça uma melhor gestão do capital de giro e um planejamento estratégico da operação até dezembro, estabelecendo indicadores e metas para avaliar o desempenho do negócio”.

Sou micro ou pequeno empreendedor. O que devo fazer para vencer a crise?

Apesar da gravidade da situação, manter-se em constante movimento, arregaçar as mangas no trabalho e adotar uma postura otimista e estratégica, pode reforçar a capacidade produtiva e otimizar os negócios. O economista Danilo Orsida diz que a inovação pode ajudar o micro e pequeno empreendedor a sair da crise. “O atual cenário requer do empresariado capacidade de planejamento e inovação. Como bem diz o ditado popular, enquanto uns choram, outros vendem lenços. Sendo assim, este momento de adversidade, com sinais de alta inflação, disparada do dólar, aumento geral do nível de desemprego, encarecimento do crédito no mercado financeiro, requer do empresário planejamento e inovação para manter aquecido o nível geral de negócios”.

O Diretor do Grupo Siac, Edinelson Cunha, acredita que a inovação pode ser o grande trunfo do empreendedor para vencer a crise. “Vejo que neste momento o pequeno empreendedor precisa inovar, correr atrás de seu sucesso, planejar novas linhas de comercialização e não ficar parado, pois se ele continuar inerte, inerte ele vai permanecer até falir”.

O que esperar após a turbulência?

Welington Rodrigues diz que o impeachment e as demais resoluções político-econômicas podem viabilizar uma grande reviravolta e fomentar um cenário mais propício ao empreendedorismo brasileiro: “o impeachment afeta positivamente, porque restabelece a credibilidade para uma nova gestão que vá gerar resultados no mínimo melhores que os apresentados nos últimos anos. Uma nova equipe econômica com respaldo internacional atrai novamente o capital estrangeiro para o país, o que fomenta as empresas de capital aberto e, por conseguinte aumenta a disponibilidade de recursos para comprar, produzir, vender e investir, causando um efeito multiplicador da renda de todos os agentes até chegar ao micro e pequeno empreendedor. As previsões são que os negócios tendem a melhorar a partir da maior circulação de moeda no mercado, maior facilidade no crédito e redução dos juros”, afirma.

Danilo Orsida acredita na recuperação econômica do Brasil, diante da efetivação de uma solução para a problemática enfrentada pelos cofres públicos e pela crise política. “O ano de 2016 será um ano de superação. Numa análise otimista estima-se que a economia brasileira crescerá 0,5% em 2016. Todavia, para pavimentar o caminho de crescimento e desenvolvimento econômico se faz necessário promover o reequilíbrio das contas públicas bem como a resolução do imbróglio político”, diz.

Entenda o processo de impeachment

Os levantamentos mostram que as chances de que o Senado aprove a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rouseff estão cada vez mais consistentes. No entanto, o caminho para o final dessa história é longo e angustiante. Após ser aprovado na Câmara dos Deputados e encaminhado ao Senado, o processo aguarda votação. Considerando o perfil mais acomodador do presidente do Senado, Renan Calheiros, é possível acreditar em uma hipótese mais realista de que a decisão não saia antes do dia 12 de maio. Aberto o processo, Dilma é afastada do cargo.

Em seguida, a presidência do julgamento é assumida por Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Da instrução até o julgamento final (fato para o qual a Constituição prevê um prazo de 180 dias), enquanto a Casa analisa se há provas para cassar o mandato de Dilma definitivamente, e considerando a mesma previsão realista, a decisão do impeachment deve ser definida até o dia 12 de novembro.